Como empresas brasileiras de alimentos conquistaram o mundo

Vamos abordar hoje algumas empresas brasileiras do ramo alimentício que obtiveram sucesso (ou não) no exterior, analisando as táticas de marketing internacional empregadas e seus resultados até os dias atuais.

Além da exportação, que é o método básico e provavelmente o mais conhecido de se inserir um produto no mercado externo devido sua flexibilidade e baixo risco se comparado aos demais, há outras formas de levar uma empresa para outros países. Por meio da Joint Venture, por exemplo, a empresa busca uma permanência mais duradoura no território alheio sem perder sua identidade. Esse modelo de cooperação consiste na ajuda da empresa local em trazer um negócio estrangeiro oferecendo todo o know how e as formalidades necessárias que a nova empresa consiga se instalar com mais facilidade, e foi assim que a famosa rede brasileira de fast foods, Bob’s, chegou ao Chile.

Criado em 1952 no Rio de Janeiro, o Bob’s decidiu investir no mercado chileno apenas em 2009 em parceria com a rede de fast food “Doggis”. A partir dessa joint venture, foram abertas duas unidades Bob’s no território chileno e duas lojas Doggis no Brasil. Porém, antes disso o Bob’s já estava presente na Angola, onde chegou em 2005 através de outro modelo de internacionalização: a franquia. O mercado angolano tem uma boa aceitação de produtos brasileiros, pois além de falarmos o mesmo idioma, nossas novelas e músicas também estão inseridas na cultura deles, esses fatores foram facilitadores para o sucesso da rede de fast food lá.

Já o Habib’s, a maior rede de fast food de comida árabe do mundo, criada no Brasil em 1988 tinha como objetivo chegar aos Estados Unidos, mas antes disso, entraram no mercado mexicano através de filial própria em 1999. Porém, com o atentado terrorista das torres gêmeas em 2001, a imagem árabe ficou muito manchada nos EUA (como vemos casos de preconceito e xenofobia até os dias atuais), desistindo assim dessa tentativa de concorrer em solo norte americano. Esse estudo de mercado e planejamento foi crucial para evitar prováveis prejuízos caso se instalassem!

Enquanto isso, o Spoleto, criado em 1999, considerado uma rede “fast-casual” – que une a rapidez dos fast-foods à qualidade de um restaurante – já foi registrado pensando-se em uma marca global, segundo seu fundador. Entre 2004 e 2007, estudantes do MIT vieram conhecer o Spoleto de perto pelo projeto G-Lab, cuja finalidade era ajudá-los a se inserir no mercado internacional. Assim, no fim de 2004, através de um acordo com a rede de pizza Domino’s, conseguiram entrar no mercado mexicano com a abertura de dois restaurantes e em contrapartida, auxiliaram a Domino’s a se expandir pelo Brasil.

Em 2007, o Spoleto inaugurou seu primeiro restaurante na Espanha, em 2012 na Costa Rica e em 2015, com ajuda de um membro do conselho do Chipotle – que possui mais de 1000 lojas espalhadas pelos EUA – abriu seu primeiro restaurante em solo norte americano. Esse contato direto com outros países, ajudou a mudar a arquitetura de suas lojas para um novo conceito, além de estimular a questão da sustentabilidade, que também vem sendo muito recorrente no Brasil nos dias atuais. Da mesma forma que foram ajudados pelas grandes redes Domino’s e Chipotle, percebemos a importância de que se tenha uma pessoa local que conheça bem os dois lados: o mercado alvo e a cultura interna da empresa.

Assim como o Spoleto, a rede “Giraffas” também apostou no estilo “fast-casual”, o CEO explicou que seria difícil concorrer com os preços baixos dos fast foods estadunidenses, então preferiu entregar um produto um pouco acima do valor praticado entre as redes predominantes, mas com qualidade superior. Fundado em 1981, teve sua primeira loja fora do Brasil apenas em 2011 no estado da Flórida nos EUA, onde há uma grande quantidade de consumidores brasileiros e hoje já conta com cerca de 10 lojas por todo o estado, sendo elas próprias, mas algumas foram passadas para que franqueados assumissem a administração.

Bem diferente dos exemplos aqui citados, a churrascaria Fogo de Chão não possui um caráter de fast-foods nem fast-casuals, mas um restaurante voltado à um público mais exigente, com tíquete médio bem mais alto e já conseguiram levar o sabor da comida brasileira para diversos locais.

Criada em 1979 em Porto Alegre, o restaurante só abriu sua primeira filial fora do Brasil em 1997, nos Texas, EUA. Os gaúchos, donos da churrascaria, escolheram Dallas como sede de sua primeira filial devido às semelhanças do local com o sul do Brasil, como a cultura do campo e do churrasco, além de ser o “estoque” de carne americano, diminuindo assim custos. Só após a aprovação desse público, resolveram levar a ideia adiante abrindo assim filiais em cidades culturalmente bem distintas como Nova Iorque, Filadélfia e Chicago, dominando aos poucos o mercado estadunidense que hoje conta com 40 das 53 unidades do restaurante ao redor do mundo.

Iara Neme

Iara Neme

Graduada em Relações Internacionais e Comércio Exterior. Produtora de conteúdo na página ComexLand com experiência de mercado na área comercial, de logística e importação.